22 de março de 2020

Números

Há qualquer coisa de infinitamente perverso na normalização da contagem diária que o coronavírus instalou no nosso quotidiano: número de infectados, número de hospitalizados, número de mortos... Perverso no sentido primordial da palavra: a perversidade como desvio a uma norma. No limite, acomodamo-nos a esta nova aritmética, desviando-nos da ideia segundo a qual o humano excede qualquer quantificação que o queira integrar.
Reconhecê-lo não salva ninguém, como é óbvio; o certo é que, salvo melhor opinião, também não ameaça a vida seja de quem for. Resta saber se estamos a entrar numa nova cultura das quantidades, com vírus e para lá do vírus.