A situação de confinamento aumentou o consumo de filmes online, hélas! O que não quer dizer que haja qualquer tipo de incremento na afirmação de valores cinéfilos. Entenda-se: no sentido de compreender e valorizar os filmes como objectos específicos, ligados a uma história, um património, uma mitologia e uma simbologia. Nada disso: as plataformas de streaming organizam as suas listas de novidades como um catálogo de supermercado. Há, por certo, coisas magníficas no meio daquela confusão de adjectivos e patéticas descrições, mas ninguém se preocupa com a nossa dieta. O cinema passou a ser tratado com o cuidado cénico dos armários frios onde estão expostos os iogurtes — nesse caso, pelo menos, podemos distinguir os que têm dos que não têm lactose.