14 de julho de 2020

A linguagem dominante

Sempre que acontece um golo bizarro num jogo de futebol (e é quase sempre), surge uma alma inquieta para nos alertar que tudo aquilo aconteceu "contra a corrente do jogo", rejeitando o valor do acaso e o sabor da imprevisibilidade que, por definição, caracterizam qualquer jogo. Por estes dias, especialistas de todos os quadrantes (a ponto de, perante a proliferação de actividades especializadas, o ser humano comum não passar de um incidente incómodo) garantem-nos que a pandemia é uma "oportunidade". De quê? Para quê? São assim os oráculos da nossa miséria filosófica — da caricatura patética passaram à condição de linguagem dominante.