3 de julho de 2020

Pós-quarentena

Novas imagens do futuro. Aliás, do presente em demanda do futuro. Ou do presente, do imperioso presente, que resistimos a identificar como futuro perversamente actualizado. A saber: o New York Times publica imagens de ruas em movimento, até certo ponto idênticas às das chamadas câmaras de vigilância, mas transfiguradas em mapas de temperatura, e com uma informação surreal: "Num mundo pós-quarentena, as imagens de infra-vermelhos poderão tornar-se uma parte da nossa vida quotidiana. Uma grande parte." E se é verdade que o visual nos pode remeter para o imaginário de alguma ficção científica, não é menos verdade que as cores densas, estranhamente sensuais, geradas pelas câmaras pertencem a um novo realismo: deixamos de ser figurantes de uma paisagem social, passando a existir como manchas térmicas. Os corpos, os seus fluidos e todos os sobressaltos da pulsão romântica passam a existir sob o signo de uma incurável suspeita.