Alguma indiferença jornalística face à estreia do filme de Elia Suleiman, O Paraíso, Provavelmente, parece decorrer do incómodo associado às suas narrativas. E não necessariamente porque o jornalista se sinta compelido a ceder ao maniqueísmo cognitivo do "pró ou contra". Para lá das tragédias e do sangue que, há décadas, pontuam a coexistência Israel/Palestina, Suleiman enuncia uma verdade muito básica com a qual não é fácil lidar, sendo ele, obviamente, o primeiro a confrontar-se com a sua densidade material e também a perturbação simbólica que acarreta. A saber: como existir — e, sobretudo, como filmar — quando se pertence a um povo e não se tem um país? Perversa convulsão da história: como se o ancestral assombramento judaico se tivesse transferido para a existência contemporânea da Palestina.
Para a aceleração jornalística que faz lei, arrastando mesmo os que tentam resistir-lhe, Suleiman (o seu trabalho, entenda-se) repele qualquer classificação de fronteira, derivada ou não da linguagem da pandemia: não é possível aquietá-lo num rótulo mediático, não sabemos se está infectado ou não. Há nele qualquer coisa da neutralidade ambígua de um assintomático — e isso a preguiça jornalística não tolera.