Novo vírus de linguagem, este ainda mais activo e destruidor da alegria, da luminosidade e dos enigmas que a linguagem pode conter. Já não se trata de disparates como a morte lenta da subtil expressão "à última hora", destruída pelo horrível "à última da hora". Agora, dos políticos aos investidores, passando pelo cidadão comum (?) à frente de quem foi colocado um microfone, quase todos aprenderam a proclamar que a situação de pandemia é uma "oportunidade". Há "oportunidades" em todos os recantos da economia, da cultura, da vida pública e privada — como se o combate contra a doença e a defesa da vida fosse uma construção de lego... Colocamos uma nova peça e o mundo encontra a sua redenção, anulando o apocalipse. Há qualquer coisa de entediante em todo este voluntarismo. E também de desmobilizador.