As notícias, nacionais e internacionais, das festas de contágio, promovidas e protagonizadas por gente sem o mais débil resto de consciência social, são um sinal esclarecedor de uma nova regra. Não são, de facto, uma excepção, mas o triunfo de uma sinistra regra. Estranhamente ou não, é uma regra de trágica solidão. A saber: perante a fragilização de todos os modos de definição e afirmação individual no seio de algum colectivo — família, escola, religião —, os novos eremitas da doença tentam compensar o seu desespero com a estupidez delirante das suas festas. Celebram uma miserável utopia que consiste em sentir o bafo dos outros, beber álcool e dar pulos — tudo isso será ampliado pelas inevitáveis imagens televisivas, de outro modo festivas, também perversamente virais.
No limite, nenhum desses patéticos cidadãos em festa reconhece a inscrição da morte na sua trajectória de vida — é bem verdade que a negação da morte habita todas as narrativas de redenção romântica, mas aí a doença era outra.