22 de junho de 2020

Connaît pas

Os ajuntamentos nas ruas de diversas cidades europeias são tristemente reveladores da quebra de um laço clássico: o dos cidadãos com o Estado. As celebrações de um individualismo libertário (bela palavra, agora abastardada) contaminado pelo vale-tudo do novo social — e das suas redes — são a expressão muito directa de um vazio existencial que já nem sequer possui qualquer réstea filosófica de niilismo. Apenas essa estupidez colectivizável segundo a qual o ruído desagradável, literal ou simbólico, que um qualquer possa produzir encontra sempre eco num qualquer colectivo de irresponsáveis.
Importa acrescentar algo de muito objectivo: a estreia de um grande filme (exemplo actual: Da 5 Bloods, de Spike Lee) terá sempre, mas sempre, um milhão de vezes menor cobertura mediática que duas ou três centenas de pessoas aos gritos, de copo na mão, a proclamar que o COVID-19... connaît pas.