As imagens fotográficas e televisivas pontuaram toda a semana, numa espécie de parasitismo mediático que foi deslizando da surpresa para o choque, passando pela perplexidade: as três principais figuras do Estado português — Presidente da República, Presidente da Assembleia da República e primeiro-ministro — acharam por bem protagonizar um evento de elaborada teatralidade para dar conta da realização em Lisboa da fase final da Liga dos Campeões. Como é possível que em tempos de tantos dramas tão difíceis de enfrentar, o aparelho estatal convoque toda a sua autoridade simbólica para se apresentar como arauto e garante de um evento futebolístico?
Claro que há argumentos de natureza económica e promocional que os políticos sempre aplicam para explicar este seu empenhamento. E convenhamos que, em boa verdade, não parece possível desmentir a justeza dos números eventualmente associados a tais argumentos. Aliás, corrigindo: qualquer discussão nessa base reforça o equívoco segundo o qual tudo se reduz a um misto de tecnocracia e marketing.
Acontece que aquilo que se discute e questiona não são números, mas formas de vida — formas de conceber e encenar a nossa existência de cidadãos portugueses. Ou ainda: porque é que o futebol passou a ser tratado, politicamente tratado, entenda-se, como o palco principal da nossa afirmação enquanto país, da nossa definição enquanto povo? Eis uma pergunta que valeria a pena integrar nos próximos debates dos actos eleitorais.