26 de setembro de 2020

Cinema

Pesadelo cognitivo: jovens de todo o mundo, muito sérios na seriedade que lhes assiste, acreditam que basta postarem-se em frente a uma câmara, falando (falando, falando, falando...) sobre um determinado filme para que nós fiquemos com uma espécie de "chave mestra" para a compreensão do referido filme. Dir-se-ia que, por causa do recato que a pandemia impôs, esses jovens são peões de uma miséria intelectual em assustador crescimento, uma verdadeira brigada de multiplicação de ignorância crítica e irresponsabilidade mediática, automaticamente desculpada pela noção de "juventude" — como grupo cujos disparates seriam sintoma de uma verdade natural, comovente e incontestável — induzida pelo social em rede. Não admira que haja cada vez menos pessoas, de todas as gerações, que tenham curiosidade em conhecer o cinema através das suas especificidades. Sim, qualquer melodrama de Vincente Minnelli é, como qualquer telenovela, uma narrativa sobre famílias, casais e amores atribulados — mas quem é que ainda vê a diferença entre uma coisa e outra?