10 de setembro de 2020

"Influencers"

As contas de Instragram dos chamados "influencers" sobrevivem através da pandemia. Em boa verdade, parecem até ser potenciadas pela situação: o homem/a mulher protagonista multiplica as suas influências para uma plateia virtual que, através de mensagens de obrigatória celebração, encontra as imponderáveis justificações para determinados gestos de consumo — dos mais recentes modelos de sapatos ou malas de viagem até à filosofia requentada de decrépitos acessos de nostalgia "new age".
O resultado envolve qualquer coisa de infinitamente triste: o protagonista funde-se por completo com o produto, muito para lá da condição convencional de mensageiro ou promotor. No limite, o protagonista é o produto.
Sobre as jovens mulheres que desempenham tais papéis, não há qualquer protesto feminista, nem sequer uma discreta perturbação anímica — como se o feminismo tivesse esquecido as suas Beauvoir, reais e simbólicas, reduzindo todas as relações humanas ao respectivo enquadramento legal (cuja importância não está em causa). Se isso serve de consolação, lembremos que a situação do lado masculino não é mais edificante. E convenhamos que é sempre mais cómodo proclamar que Sartre era uma besta.