Empatia, palavra mágica destes tempos de tantos laços quebrados, outros ensaiados, muitos desejados, muitos impossíveis. Na secção de Opinião de The New York Times, Molly Worthen, professora de História e jornalista freelance, escreve sobre os dramas da empatia em cenário de pandemia ['The Trouble With Empathy']. Artigo obviamente mobilizador que nos recoloca perante os modos que nos levam, ou não, a reconhecer as singularidades dos outros. Mais ainda: perguntando que modelos de pedagogia, nomeadamente na escola, nos podem abrir portas para tais singularidades— o artigo apresenta mesmo uma sugestiva entrada: "Podemos realmente ser ensinados a sentir a dor de cada um dos outros?"
Começando por referir as experiência por que está a passar a sua filha no jardim infantil, Worthen destaca a importância dos livros na construção da empatia, isto é, no conhecimento e reconhecimento da história irredutível de cada ser que nos surge como estranho, ou melhor, exterior ao nosso universo. Celebrando o primitivo e maravilhoso acto de leitura, portanto.
E, no entanto, tudo isto parece decorrer da análise de um universo em que o livro se apresenta como elemento "natural" de uma cultura global subtitamente esvaziada do assombramento social das "redes". A explanação desenvolve-se, assim, omitindo o facto de vivermos num mundo que, através de milhares de milhões de polegares ao alto, impôs a mais agressiva ilusão empática: dispondo do mapa etéreo de infinitos links virtuais, teríamos encontrado a comunicação automática e ideal, fundando uma comunidade de empatia universal, cândida e irrevogável. Ainda que com intenso e comovente amor pelos livros, como é possível pensar a nossa relação com o outro, ignorando isto?