12 de agosto de 2020

A-L-I-E-N-S

Toda a nossa "comunicação" passou a estar contaminado por violentas formas de moralismo. Não porque tais formas proponham alguma moral sobre os respectivos conteúdos (para usarmos a palavra consagrada pelas rotinas informativas); antes porque, através de um calculismo anónimo, se organizam para instalar a noção purificadora segundo a qual há uma moral prévia que comanda e legitima tudo aquilo que se "comunica".
Assim, vemos e ouvimos autores de discursos de trágico vazio de pensamento a proclamar, frase sim, frase não, que falam, cantam ou militam em nome do "planeta", das "mulheres", dos "negros" ou do "direito à diferença"... Não dizem três palavras seguidas capazes de gerar qualquer coisa de minimamente consistente, mas estão do lado de uma razão que, no limite mais patético, ignora a sua obscenidade — implicitamente, condenam-nos se nos atrevermos a nomear a sua mediocridade discursiva.
Por estes dias, nos EUA, há mesmo quem tenha descoberto que Aliens: O Recontro Final (1986), segundo episódio da saga "Alien", realizado por James Cameron, é um marco na história do feminismo... Não haveria maneira mais prática, nem mais eficaz, nem sequer mais reaccionária, de anular a complexidade e a urgência dos temas que, supostamente, se convocam.