Algures, num dos programas televisivos sobre futebol, um comentador entusiasta (e, honra lhe seja feita, de empenhada sinceridade) avalia as possibilidades de contratação de grandes craques estrangeiros para algumas equipas portuguesas. E os milhões necessários? Pois bem, argumenta ele, é preciso que apareçam porque todos vamos ganhar com isso — e imaginamos os dias radiosos que irão viver o futebol, os adeptos, os clubes, o país e os vendedores de bifanas... Insólito tempo mediático este em que vivemos. Para lá da obscenidade de um discurso deste teor face aos dramas quotidianos decorrentes da pandemia e da hiper-fragilização do mercado de trabalho, não tenhamos dúvidas: se algum intelectual se precipitasse a sugerir algo de semelhante para a área do cinema, ou até mesmo do badminton, estaria a esta hora a ser metodicamente queimado na fogueira dos "tribunais" públicos.
Assim vai o nosso diálogo social.
Assim vai o nosso diálogo social.