30 de agosto de 2020

Avante

A inabilidade política das entidades governamentais em lidar com a Festa do Avante é um reflexo exemplar da dramática dimensão social da pandemia. Num sentido muito preciso: se é possível definir, politicamente, regras socialmente coerentes e consensuais, porquê hesitar quando se está a lidar com um partido político?
Verificamos, assim, que em determinados momentos o Partido Comunista continua a ser tratado como uma vaca sagrada da nossa cultura democrática, como se qualquer medida que afecte a sua lógica ou as suas actividades fosse uma ferida aberta na "democracia", ou até mesmo um insulto ao "povo".
Escusado será dizer que tal tratamento só oferece pretextos a que as forças mais extremistas reforcem as suas argumentações demagógicas, arrogando-se o direito de falar em nome do dito "povo". Seria assim tão complicado ser coerente e, já agora, aplicar a religião do futebol para declarar o óbvio que é também, neste caso, em nome da saúde pública, o mais sensato? A saber: se não há pessoas nos estádios de futebol, também não há Festa do Avante.
Podemos até acreditar que haveria algum militante comunista que, em nome dessa sensatez, viesse publicamente reconhecer a justeza da decisão — em nome do povo, neste caso sem aspas.