2 de agosto de 2020

Policial

Cada vez que há uma situação social de violência nos subúrbios, cada vez que há um fogo, cada vez que a estupidez de alguns adeptos do futebol se traduz em agitação mais ou menos violenta, porque é que há sempre alguém que sugere que as forças policiais chegaram "atrasadas"? E porque é que esse alguém, não poucas vezes, é um jornalista? Mesmo vivendo a crueldade colectiva do COVID-19, temos dificuldade em reconhecer que as convulsões que agitam a comunidade estão enraizadas em factores necessariamente complexos, muito para lá de qualquer determinismo redentor de causa e efeito, por vezes enredados nas nossas vidas ao longo de dezenas ou centenas de anos. Como se a chegada da polícia 10 minutos "antes" fosse um factor de milagrosa pacificação das nossas contradições internas. Aliás, explicar tudo pela qualidade do policiamento, por mais necessário e competente que seja, é dar mostras da nossa  frágil identificação com a Lei — não apenas aquilo que está legislado, mas um sistema (escrito e afectivo, material e simbólico) que espelhe um sistema de valores em que todos nos reconhecemos.