Há uma guerra social travada por causa e, de alguma maneira, através do COVID-19. No seu cerne está o impensado do trabalho. Dito de outro modo: abaladas todas as estruturas de trabalho, não há programa social para sustentar de modo tão harmonioso quanto possível a circulação dos valores. Daí a silenciosa ressurreição de um fantasma: cada ser humano deixou de valer pelo trabalho que executa ou pode executar, reduzindo-se ao valor que pode gerar para a "colectividade". Subitamente, Marx renasce numa perturbante actualidade simbólica. Perturbante e, em alguns aspectos, irrisória, já que aqueles que seriam os seus directos herdeiros (coisa discutível, entenda-se) nada têm a dizer sobre o actual labirinto social do trabalho, investindo numa patética militância. A saber: dirimir com a Direcção Geral de Saúde os números possíveis de visitantes no recinto da Festa do Avante.