Quando se diz criticar, a regra, com poucas excepções, reduz tal prática ao labor irremediavelmente suspeito de "dizer mal" — e é bem verdade que o aparato mediático em que vivemos trabalha, muitas vezes, para impor tal significação.
Trata-se, afinal, de um velho e muito triste vício intelectual do pensamento popular (sim, com inusitada frequência o popular existe através de enredadas elaborações, genuinamente intelectuais). Perdeu-se a relação com a raiz do verbo, recordada por Jean Laplanche em 1970: "Criticar, no sentido etimológico do termo, é escolher, redistribuir as cartas, 'inventariar' o que foi misturado."