O cancelamento de tudo o que seja espectáculo (com) público constitui uma catástrofe para o mercado de trabalho. Mais do que isso: é um sintoma civilizacional. Abre uma ferida cruel, porventura insanável, que, sendo de natureza económica, é acima de tudo visceralmente cultural. E só ficaremos surpreendidos se nos esquecermos que o cultural é a instância em que mais directamente se exprime, edifica e transfigura o económico. Perversamente, tudo isto tende a favorecer a consolidação de uma sociedade em streaming, esse paraíso prometido, promovido e comercializado pelos GAFA (Google + Amazon + Facebook + Apple). Não foram eles que criaram o vírus, claro — evitemos a paranóia das conspirações. O certo é que já tinham inventado a paisagem viral que passámos a encarar como se fôssemos os primeiros habitantes de uma nova ideia de Natureza.