Subitamente, em algumas prelecções públicas sobre a sexualidade vs. COVID-19, surge a palavra desejo. Com a preocupação profilática de recomendar que os indivíduos aconselhados — eu, tu, ele... — se disponham a administrar (?) o seu desejo, garantindo que, quando a sua chama se apaga, o possam reacender algures, em condições mais interessantes. Eis-nos nas catacumbas da nossa gloriosa Sociedade de Aconselhamento. Mais de um século depois dos Três Ensaios de Freud, os sacerdotes do nosso esvaziamento cultural chegam assim, com palavras doces, para nos iniciarem nas atribulações do desejo, aplicando a mesma pedagogia paternalista com que poderiam, talvez, ensinar uma criança a lidar com fósforos. Uma temporada de Buñuel, no mínimo, para limpar as ideias.