Que está em jogo? O regresso ao trabalho? Ou a reconversão das formas de trabalhar? Para além da questão fulcral da saúde, um dos factores mais perturbantes desta crise decorre do facto de, com ela e através dela, pressentirmos a possibilidade de uma verdadeira revolução social — entenda-se: laboral — sobre a qual não sabemos construir uma qualquer perspectiva política. Porquê? Porque esta é uma revolução liderada pela própria violência da doença, sem vanguardas nem líderes carismáticos.
Vemo-nos, assim, desapossados do próprio conceito de revolução que aprendemos na história. Por vias do Bem ou do Mal (quase sempre do Bem e do Mal), a revolução expressava-se — e, de alguma maneira, acontecia — através da miragem mais ou menos realista de um destino. Agora, o destino, seja ele qual for, escapa-se-nos na areia do tempo.