A noção de que vamos sair "melhor" (ou "pior"...) desta situação de pandemia fundamenta-se numa espécie de voluntarismo infantil com que algumas almas caridosas tentam apaziguar as dores do seu semelhante. Nada disso é novo no nosso mundo mediático (neste caso, o adjectivo mediático parece mesmo condenado a ser uma dramática redundância): o sofrimento começou por ser gerido como isco de audiências, para passar a ser encarado como item obrigatório do BI de cada cidadão. O que, apesar de tudo, introduz uma nota diferente na actual conjuntura é a ânsia determinista que perpassa na invocação — de Deus ou do Diabo — que leva a justificar essa espera de qualquer coisa de "melhor" (ou "pior"...). Dir-se-ia que vivemos de tal modo afogueados em "informação" que a sua abundância adquiriu o poder — divino ou diabólico — de materializar as nossas vidas individuais e colectivas num irrepreensível destino. Por alguma razão, a proliferação de "novos" fadistas tem feito o que pode para descaracterizar o próprio Fado: o destino já não é um fantasma existencial, apenas uma miragem com boa cotação mediática.