A praga do "naturalmente" prolonga-se e, de alguma maneira, reforça-se na generalização do "evidentemente". O seu utilizador pode estar a introduzir um ponto de vista específico, sem nada de unívoco ou universal. Pode até esse ponto de vista carrilar juízos de valor muito concretos sobre um evento social, um gesto político ou uma vivência mais ou menos colectiva. Em todo o caso, isso não o impede de lançar o dom da sua evidência como um axioma a que, por princípio, o interlocutor (no limite, uma audiência) se deve submeter, sem hesitação ou protesto.
"Por que é que diz evidentemente?" — eis uma pergunta que, por regra, ninguém faz; a sua cândida formulação poderia, pelo menos, introduzir uma salutar distanciação na paisagem mediática.