Curiosa estética jornalística: reportagens televisivas ou radiofónicas, supostamente distintas pela transparência da sua intensidade emocional, são tratadas com música de fundo de requebros mais ou menos dramáticos. Em boa verdade, como qualquer trabalho narrativo, trata-se de um objecto com componentes ficcionais, mas os jornalistas integram a matéria musical para reforçar a crueza do documento — ficcionam, na ilusão de que o seu gesto se confunde com a máxima transparência documental. Há outra maneira de dizer isto: porventura com total candura, os autores de tais narrativas ignoram a especificidade das relações entre imagens e sons. Ou ainda: deixaram de ter qualquer relação com a história e o imaginário do cinema.