A proliferação de discursos paternalistas e pueris é asfixiante: o "vai ficar tudo bem" perdeu a sua original pertinência afectiva para, de tão repetido e formatado, circular como um fogacho retórico capaz de esvaziar qualquer relação de conhecimento (entenda-se: atenção, interrogação, vontade de saber) com o que está a acontecer à nossa volta. De tal modo que qualquer discurso médico ou científico razoavelmente céptico, ou apenas resistente ao simplismo profético, tende a ser alvo de uma dúvida mais ou menos implícita: "Quer então dizer que não vai ficar tudo bem? Que está tudo mal? E de quem é a culpa?" Ou como a infantilização social das relações paralisa a arte de viver — mesmo em pandemia, já não se pode ser brechtiano.