10 de maio de 2020

Escutar

Axioma comunicacional destes tempos (em boa verdade, já vindo de tempos anteriores): pela pose e pela voz, ou apenas pela voz no caso da rádio (afinal de contas, a voz envolve também uma pose), é possível detectar o grau de interesse — entenda-se: interesse pelo outro — de quem entrevista alguém. Em muitos casos, a única vibração que passa é esquemática e pueril: o que se procura é provocar algum tipo de contradição nas palavras do entrevistado, quase sempre acumulando insinuações que o caracterizem como potencial culpado de algo. Há outra maneira de dizer isto: propaga-se um modelo de anti-diálogo que se fundamenta num princípio, não de confronto de ideias, mas de conflito de posturas. Ou ainda: escutar, saber escutar, é um valor debilitado no nosso sistema social de circulação de informação. Provavelmente, devemos encurtar a frase: escutar, saber escutar, é um valor debilitado no nosso sistema social — ponto final.