Pergunta-se: como pode a cultura sobreviver? A pergunta é sintomática da cegueira (cultural, precisamente) em que vivemos. Como se a cultura se esgotasse na gestão de apoios ou financiamentos. Não está em causa a importância — mais do que isso, a urgência — de preservar as condições de trabalho de todos os que, directa ou indirectamente, contribuem para os domínios da criação artística. Acontece que o factor cultural é parte integrante da dinâmica global de uma sociedade, não uma mera tabela de orçamentos.
Para realmente falarmos de cultura, necessitamos de pensar em todos os valores que circulam pelo tecido social. E compreender que esses valores não são unívocos nem homogéneos. A cultura é, por excelência, um espaço bélico. Não há nada mais cultural que o Big Brother — e a sua cultura está a ganhar, sem que ninguém pergunte o que quer que seja.