Por estranha perversidade, a situação de pandemia veio revalorizar — ou, pelo menos, relembrar — que as relações entre os membros da classe política e os cidadãos em geral não se esgotam no simples gesto da escolha/voto. É bem verdade que, nestes tempos de saturação mediática, muitas dessas relações existem apenas e só através de filtros televisivos, condição que, a história assim o ensina, tanto pode favorecer formas de eficácia como desvios demagógicos. Mas não será menos verdade que a sociedade tem estado a viver uma inesperada lição de pedagogia política em que, na melhor das hipóteses, se reforçará a consciência (política, justamente) da inscrição de cada um no território específico da colectividade, com as suas regras fundadoras e dialécticas interiores. Resta saber se essa melhor das hipóteses não passa de uma outra máscara, teatral e volátil, que se esgota no medo transitório do vírus.