Há também uma pan-mediatização da nossa existência. Como se tudo o que é humano necessitasse de uma compulsiva configuração mediática para adquirir pertinência social. Daí nasce uma asfixia comunicativa que arrasta a noção de que nenhum laço humano é pertinente, porventura legítimo, se não se apresentar sancionado por algum discurso mediatizado ou mediatizável. Daí também que os discursos "especializados" tendam a encarar (ou a ser forçados a encarar) os domínios que abordam tendo como ponto de fuga a enunciação de uma qualquer dicotomia "positivo-negativo". Aquilo que quase todos os comentadores de futebol passaram a assumir — sancionar cada resultado como "justo" ou "injusto" — tende a ser uma matriz generalizada, ancorada numa omissão obscena. Assim, se é verdade que qualquer noção de justiça decorre de uma lei em que o colectivo se reconhece, está por esclarecer qual é a lei que transforma a vitória da "pior" equipa num resultado "injusto"... Será que passámos a habitar um mundo de tal modo normativo e normalizado que já não é possível jogar mal e ganhar um jogo de futebol? Barthes tem razão: há uma censura que impede de falar, outra que obriga a dizer.